sexta-feira, janeiro 27, 2017

Mocinho de saudades tardias

Subo até à cama dele para as despedidas da noite e encontro-o com ar de choro. 
Surpreendo-me e não aceito as suas negativas em relação ao que o pôs assim, ensino-lhe que as tristezas partilhadas são tristezas divididas. Desata a chorar, naquele choro silencioso de quem sofre sozinho. De repente, diz:
- O David foi-se embora da escola...
Estaco. Pergunto:
- Que David?
E a resposta:
- O David da pré...
Não consigo impedir-me de sorrir, é mais forte do que eu. Tento disfarçar e justificar:
- Mas já foi há tanto tempo... [um ano e meio?!] Estás com saudades dele...? Queres ligar para ele amanhã? Está combinado...! 
Ficou contente. David, palpita-me que haverá um convite para fim-de-semana em breve!

Enternece-me, o meu rapazinho de saudades tardias... Faz-me lembrar quando seguíamos uma vez de carro a conversar sobre pessoas da família, e recordou-se o primo Fernando e teve de haver explicações sobre a forma como tinha morrido. E, já depois de chegarmos ao nosso destino, dali a largos minutos, damos com ele a chorar baba e ranho porque «o Biso tinha morrido» [também há mais de um ano à data]... Nada a fazer, acontece a todos... momentos em que as saudades apertam, de quem já se foi, de quem está longe ou de quem já não volta ao que era... impossível não entender... 

Rita

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