terça-feira, setembro 17, 2013

Mais uma história de filas de supermercado quando se está grávida

Parece-me que todas as grávidas terão histórias das filas do supermercado e dos assentos prioritários nos autocarros... eu não serei excepção...
 
Sexta-feira, Pingo Doce, hora de ponta, que é o mesmo que dizer perto da hora de almoço, quando vão os senhores velhinhos todos.
Eu na fila prioritária.
À minha frente, talvez cinco clientes. Três deles idosos. Mesmo à minha frente, a típica senhora resmungona, não idosa, não grávida, não deficiente, mas provavelmente com a característica cegueira selectiva de muita gente das filas prioritárias e ainda por cima com necessidade de resmungar sobre tudo e todos. Inclusivamente sobre o facto de estar numa fila «para reformados». Mecanismos de cegueira activados, mesmo quando eu encontrei uma conhecida com carrinho de bebé a quem respondi, alto e bom som, que estava grávida de uma miúda.
De repente, um homem novo, estrangeiro, com aspecto de romeno, dois items na mão, questiona a senhora imediatamente atrás de mim, se pode passar porque só tem duas coisas para pagar. Mediante resposta afirmativa, tornei-me completamente invisível, tendo o senhor ido fazer a mesmíssima pergunta à resmungona da frente. Menos compreensiva, diz-lhe que não, que era o que faltava, que ela só tinha uma coisa e estava na fila (correcto, mesmo que na fila prioritária). Não contente, continua na resmunguice, desta vez contra todos os estrangeiros, que pensam que chegam a Portugal blá blá blá e passam à frente nas filas...
A senhora da caixa repara que estou grávida. A resmungona está prestes a ser atendida e eu acho que não vale a pena fazer-me valer do meu direito, ressalvo que havia outras pessoas em situação de prioridade (não a resmungona, entenda-se). A resmungona repara que estou grávida (grande surpresa!) e que não pedi a ninguém para passar à frente, como o dito estrangeiro, blá blá blá, mais uma série de parvoíces xenófobas.
Tenho vontade de lhe dizer que não vejo a coisa assim e que não tenho nada contra quem vem para Portugal trabalhar e tentar a sua sorte, tal como não vejo mal nenhum português tentar o futuro num qualquer estrangeiro. Tenho vontade mas não digo, tenho mais vontade de me despachar e ir embora, estou cansada e muito trabalho me espera em casa.
A senhora atrás de mim vem interceder pelo senhor estrangeiro, perguntar-me se me importo. Olho diretamente para o senhor e explico-lhe que não estou de acordo, porque ele está numa fila prioritária, porque estou grávida, porque estou cansada de estar a pé, porque talvez ele devesse estar a pedir o mesmo favor em outra fila, faria mais sentido. A senhora atrás de mim continua a interceder pelo senhor e tenta dizer-lhe para passar à minha frente, que pode fazê-lo, que é só uma coisa. A senhora da caixa intercede por mim, que ninguém passa à frente de ninguém que não o autorize. A resmungona fica a resmungar contra todos os estrangeiros que vêm para Portugal, inconsciente do facto de, nos tempos que correm, são cada vez menos os de fora que procuram oportunidades cá dentro e cada vez mais os de dentro que correm lá para fora, o que significará alguma coisa.
Pago e venho-me embora, cansada e irritada contra tudo e todos, as resmungonas que resmungam contra todos os outros, mas que se sentem no direito de usufruir direitos que não são seus, os ceguetas que nunca vêm uma grávida na fila prioritária, os que pedem a prioritários para lhes passar à frente porque só têm um item para pagar, os que pensam que, independentemente do que se disse, podem ignorar e passar à frente na mesma... raios...
Rita

1 comentário:

J disse...

Desculpa, mas parece mesmo uma cena de um filme do Kusturica.
Só estranhei o facto dos 3 idosos da frente não terem dito algo como "Ela está grávida mas é nova. Eu é que já não posso."
Portugal no seu melhor.